sábado, 22 de fevereiro de 2014

"Mulher é parte pelo todo..."


Vestida para matar: o poder de um vestido

POR XICOSA
06/02/14  02:29
yves
Ou ainda “Vista a roupa meu bem e vamos nos casar”, na voz propositadamente nasalada de Roberto.
Agora falando sério. A ruiva do Leme quase me atropela. De vestido e bicicleta. Abestalhei-me, é verdade, não aguento uma mulher que pedala de vestidinho colorido. Um perigo do verão do Rio de Janeiro. Pense na manchete do jornal “Meia-hora”: Babou pela ruiva e caiu nos braços da Velha-da-foice.
Ainda morro disso.
Tubinhos, pretinhos básicos, com e sem alça, os brejeiros de chita.
E o tomara-que-caia, amigo, você já testemunhou a queda de pelo menos uma alça dessas na vida? É lenda. Por mais que seque, só vi uma peça  do gênero despencar na minha frente, em uma festa em São Paulo. Inesquecível.
Assim como lembro da melhor cena de novela de todos os tempos: Sônia Braga, de vestido, óbvio, trepada no telhado, gata mestiça no cio arranhando minhas goteiras d´alma, ave!, na originalíssima “Gabriela”.
Pelo uso permanente dos vestidos!  Excelentes para uma safadeza gostosa, viver é bolinação e beijo na boca, em uma viagem de ônibus.
No cinema, para ver um daqueles filmes que não exigem muita atenção, idem ibidem.
As meninas de Olinda são as mais sabidas do mundo no uso destas vestes. É de nascença. Como dançam lindamente nos shows de Catarina Deejah, a mais completa selvageria da música dos trópicos!
Aos vestidos, princesas. Pule dentro de um agora, Lola, não escapula.
Contra a praticidade burocrática das Evas modernas e suas calças, suas saias austeras e seus tailleurs, essas peças apolíneas que batem a carteira de Vênus, roubam a alma de Eros.
De tão neoliberais, os tailleurs são capazes de sair sozinhos para o trabalho….
Nada nos cai tão bem ao desejo quanto um vestido.
Todo homem ama passear com uma mulher com a mais linda dessas peças. Mesmo os mais machões, que fingem ignorar a vestimenta da fêmea -reservando-se apenas a dar chiliques quando as vestes são muitas curtas.
Seja um  vestido Yves Saint Laurent (foto), um cara tão importante para as artes no geral quanto um  Proust  ou um Monet, seja  um baratinho e brejeiro de chita.
Homem que é homem, seja de Paris, Nova York ou do sertão dos Cariris, como o meu avô João Patriolino, vai à maison, às Casas Pernambucanas ou à feira do seu município e traz uma bela peça ou um tecido de presente para a amada.
Até mesmo o Fabiano, que mal tinha um cobre no bolso, personagem do livro “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, voltava da cidade com um corte de pano estampado para a sua mulherzinha magra, só o couro e o osso.
V de verão e V de vestido para deixar mais faceiras as gazelas, para dar mais graça às cheinhas, para realinhar a beleza nobre das afilhadas de Balzac…
A peça nos põe, homens de todas as gerações e gostos, mais românticos. O mais tosco dos canalhas sucumbe como um romeiro de joelhos diante da santa.
Ora, você nem carece ser a mais bela por completo,  você carece ter apenas uma linda parte pelo todo, como aquela figura de linguagem, a tal da metonímia que aprendemos no colégio.
Mulher é parte pelo todo. Uma linda omoplata, um pescoço, ombrinhos, pés, calcanhares mais lindos, um joelho à Nara Leão, batatas de pernas invejáveis, belos braços, “Uns braços”, como me alertou a amiga Aína sobre o conto genial de Machado de Assis -um jovem mancebo enlouquece apenas pelos braços descobertos de uma dama.
Aí ficará ainda mais linda de vestido, ao contrário das calças e outras tantas armaduras medievais que escondem o que nos enlouquece, o melhor dos nossos mundos.
Esconder, achando que pode ser vantajoso depois, é besteira. O charme é mostrar-se, ter a coragem, mesmo com o que você supõe ser uns quilinhos a mais.
Na balança das nossas retinas e trenas, isso pode ter importância de menos, quase nada, alguns gramas de preconceito e viadagem na cabeça de homens que  não valiam a pena mesmo.
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